terça-feira, 15 de novembro de 2011

CAPÍTULO 2 Movimento 1 - JACK O CAÇADOR DE DEMÔNIOS - CHUVA VERMELHA

Madrugada. As ruas silenciosas e apenas alguns cães ladravam para alguma sombra se movendo escuridão adentro... Um mendigo sentado na calçada, adormecido pela bebida é despertado pela correria de dois seres incomuns naquelas paragens. Um garoto nu que parecia mais voar do que correr, cercado por enormes baratas voadoras. Andando pela mesma calçada, vinha uma bela moça alta e de corpo fisicamente atlético com uma bolsa cheia de livros e semblante tranquilo, agasalhada com sobretudo e espartilho, calças de couro e coturno fivelado que chegava a altura do joelho.
Cabelos escuros na altura do pescoço com penteado despontado e óculos de grau que passavam certa intelectualidade sobre seus olhos castanhos e delicadamente delineados pela maquiagem bem feita. Lábios carnudos cobertos com batom vermelho escarlate num rosto pálido e bonito. Tinha por volta dos 21 anos.
Percebeu ao longe o movimento estranho, mas ao invés de procurar um lugar para se esconder, como seria o mais sensato uma moça fazer ao andar sozinha na rua de madrugada, (ou talvez sensato seria nem sair durante a madrugada, como fazem as boas moças...) sacou seu revólver da cintura e fez pontaria. Assim, logo o ser que se movimentava se aproximou, ela efetuou o primeiro disparo. BANG
O que mais parecia com uma sombra, sobre ela saltou com uma voracidade que a fez ir ao chão. A boca mordia mostrando as presas enormes e a baba escorria por seu rosto, suas mãos faziam um tremendo esforço para segurar a cabeça que não conseguia identificar como sendo de algum animal conhecido.
Eis que num estalo seco, a cabeça pareceu sofrer algum tipo de impacto e o "animal" rolou ao lado da moça, que tentou se levantar. Logo mais um disparo foi ouvido ao longe, e desta vez acertou o peito do vampiro que retomado a sua forma humanóide tinha avançado na garota. Com um baque seco, ele caiu de costas na calçada de pedra.
Se aproximando, a moça conseguiu distinguir o autor dos disparos. Uma figura enorme que mais lembrava os pistoleiros dos antigos filmes de western que ela assistia com seu avô no cinema quando criança.
Empunhando novamente sua pistola, uma semi-automática de calibre 45, ela esbravejou:
-Pára!! Senão atiro em você!
-Não quero nada com você menina, viemos atrás do bicho que está atrás de você. Dito isso com a colt ainda em punho, Jack mirava no vampiro que se levantava, flutuando atrás da moça.
BANG BANG... - vários disparos foram efetuados por ambas as armas, até que o nojento bateu com a cabeça na pedra da calçada, causando um ruído próprio dos ossos quando se quebram.

Já na calmaria, Evan tentou se aproximar da moça.
-Calma, senhorita, acho q o mal já passou. Me chamo Evan e sou padre.
-Me chamo Scarlett Montreal, padre. Estava saindo do Campus da faculdade neste momento. Ia pra minha casa.
- É inapropriado uma moça sair a essas horas na rua.
- Pra que você acha que trago esta 45 comigo? Recebi uma ligação da governanta que cuida de meu avô doente. Preciso ir pra casa com urgência, apesar da hora. Mas não tenho que dar satisfações, com licença...
Dito isso, ela guardou a 45 na cinta, e recolheu sua bolsa do chão. Continuou sua caminhada em ritmo apressado e correu, logo desaparecendo na escuridão.
-Uma chica bem esquentada e corajosa também. Comentou Evan, que às vezes não tinha o comportamento de um padre convencional.
Se aproximando do defunto, Jack começou a examiná-lo. Tinha os caninos próprios de vampiro, mas algo mais, a pele decomposta e nada de sangue, o cheiro de podre emanava dos buracos das balas. Ele ainda vivia. Mas se engasgava com o pescoço retorcido e quebrado. Logo iria morrer.
-Não adianta interrogá-lo, garanto que não vai conseguir falar nem escutar o que você perguntar. Interveio Evan, gesticulando o sinal da cruz em direção ao corpo caído.
 Salvum fac servum tuum (Salve o teu servo). Amen.
No entanto, Jack notou que o moribundo trazia em seu dedo anelar um anel dourado com um símbolo e algumas inscrições. Tomou-lhe o anel.
A esta altura eles já haviam perdido o rastro de Matt, que havia continuado sua fuga, apesar da confusão com o vampiro. Este que começou a se desfazer até se tornar somente ossos secos e depois poeira, devido à sua morte, definitivamente.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Movimento final do primeiro capítulo: Jack - O Caçador de Demônios. Chuva Vermelha.

Uma fria e enevoada rua de Londres. Tipicamente fria como as madrugadas na Inglaterra costumam ser. Estava na companhia de meu amigo o jovem Evan, recém ordenado padre pela ordem eclesiástica do Vaticano. Ocasionalmente me acompanhava levado por seu constante interesse pelo oculto. Mas desta vez a procura foi feita diretamente a ele na igreja por Maria, mãe de Matt, um garoto que dizem estar se comportando de maneira peculiar nos últimos meses. Chegando ao endereço fornecido pela mãe do garoto, um dos condomínios no subúrbio da cidade. Tocamos a campainha e logo a jovem de belos cabelos louros, olhos azuis e semblante deveras exausto veio atender, entreabrindo a porta, ainda com a correntinha presa no batente.
- Graças a Deus, Padre... Vamos entrar. Disse a mulher.
- Deus abençoe, filha. Espero que não se importe do meu amigo me acompanhar esta noite.
- Não, de modo algum... Lançando um olhar de curiosidade ao ver minha figura, confesso um tanto diferente, Usando um grande sobretudo de couro preto com forro vermelho, botas pesadas e chapéu. Porte de dois metros de altura e longos cabelos alvos. Felizmente ela não percebeu também a cor dos meus olhos, ocultos pela sombra do chapéu. Um brilho dourado, comum na raça dos Dampyr. O misto de homem com vampiro.
Olhar o qual não retribuí, até mesmo sem me apresentar. Não sou atento à etiquetas, deixo tais a cargo de Evan.
Subimos a longa escada semi-espiral até chegarmos ao quarto do garoto, que tinha cerca de oito anos de idade, nu, olhando para a parede, que continha estranhas escrituras e um pentagrama invertido desenhados com alguma substância escura e pegajosa, que parecia estar há algum tempo encrostada na parede. Um cheiro de carniça emanava do quarto. Logo percebemos alguns pássaros mortos e um gato, já falecido há pelo menos uma semana, devido ao seu estado de decomposição e pelos vermes e moscas que de sua podridão se alimentavam.
Devido ao estado do casulo, supomos que sua mãe já havia deposto de todos os meios de tentativa de controle de comportamento do filho. E julgando pelo estado do quarto, ela teria sido posta à fora inclusive com uso de violência, denunciando as cicatrizes que haviam no rosto e nos braços, conforme tinha mostrado à Evan momentos antes, na igreja.

-Bem, comecemos. Disse Evan apanhando sua bíblia e alguns apetrechos em sua maleta. Estola púrpura, água benta e crucifixo em carvalho.
- In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti... Depois de declinar as bênçãos iniciais, o procedimento era borrifar água benta em movimento de cruz ao corpo à ser exorcizado. Pena que o ato foi interrompido pelo avanço do fedelho tal como cão raivoso querendo rasgar a garganta do Padre.
Saquei meu colt na intenção do que se fazer para calar um animal com hidrofobia quando fui detido pelas mãos da mãe do menino, agarrando meu braço.
No mesmo momento um vulto de olhos brilhantes e força descomunal dispara um golpe selvagem derrubando a mim e a jovem.
Suspeito que havia acompanhado toda a cena na espreita de uma das sombras do quarto, sem mesmo eu ter notado sua presença asquerosa.
Sobre a luminância do luar, o ser revela sua forma, extremamente magra, vestindo um roupão preto em farrapos e calças pretas. não usava sapatos nem camisa. Era careca e tinha as orelhas pontiagudas, olhar vidrado, emoldurado por profundas olheiras escuras como se estivesse sob algum tipo de abstinência. Também rosnava e babava muito. Tinha os caninos pontiagudos.
-Venha. A voz gelada petrificou a moça que se agarrava ainda mais forte no meu braço, me prendendo um pouco os movimentos. Quando finalmente me livrei num puxão nada delicado, e disparei um tiro na criatura, essa se desfez sobre a forma de muitos insetos voadores e grandes... baratas!
Conseguiram quebrar a janela com ajuda do garoto que se lançou num mergulho quase fatal, arrebentando o vidro e correndo pelo jardim até sumir de vista. Pudemos ver a sombra dos insetos fugindo junto com ele.
O padre ainda recuperava o fôlego quando eu disse a ele:
- Vamos Evan!

Saltamos com a agilidade de lobos famintos pelo mesmo lugar que tinham saltado nossos algozes e nos embrenhamos na noite em seu encalço.